CANTARES
O campo já não tem rosas,
As noites não têm luar,
E as andorinhas medrosas
Atravessaram o mar.
À sombra de uma ramada
Um dia inteiro passei
Colhendo uvas e beijos,
Quais mais gostosos não sei.
O meu mal já não tem cura
Porque é já mal de raíz;
Desde o berço à sepultura
Tenho de ser infeliz.
No céu se apagam os males
Que no mundo se fizeram;
Se assim é, esses teus olhos
Grandes castigos esperam.
Quem se ri está contente.
Quem está contente é feliz,
Mas cala-te, coração,
O que sentes não se diz.
Júlio Dinis
<< Home